O segredo para relações saudáveis
O segredo para relações saudáveis está no nosso cotidiano, tudo o que nós precisamos é estar atentos e aprender a usá-lo. Eu gosto das palavras, elas tem o inestimável poder de dar sentido aos nossos sentimentos e pensamentos mais profundos, permitindo tornar público o que nos afeta e de que forma faz isso. Inclusive, é através delas que nós podemos expressar com maior ou menor intensidade as alegrias e agonias da nossa alma.
Todavia, palavras são como rosas, pois, de forma contraditória carregam tanto perfume e beleza, quanto espinhos, exigindo de nós cuidado dobrado. É inegável a força que elas têm para construir e destruir conceitos, ideias e até mesmo, autoestimas. Você já percebeu como argumentos bem elaborados podem corroer subjetividades? A primeira vista podem soar inocentes, mas com poucas palavras podemos passar de vítimas à agressores em segundos.
VOCÊ É RESPONSÁVEL PELO O QUE O OUTRO ENTENDE!
Ainda assim, há quem diga que a forma como a mensagem chega ao outro pouco importa frente ao que foi falado. Em outras palavras, defendem que os responsáveis pela interpretação do que foi dito são as pessoas que ouvem, não as que pronunciam. Esse argumento individualista tem corroído relacionamentos em todas as esferas da sociedade.
Se realmente acreditarmos que a forma como o outro recebe o que dizemos não é nossa responsabilidade, negligenciamos quem o outro é nessa relação. Quando assim fazemos, deixamos claro que pouco importa que o outro me entenda, eu apenas quero falar. Comunicar algo não é simplesmente falar. Comunicar algo é se fazer entendido pelo o outro.
Você já se viu numa situação em que teve que explicar de diferentes formas e tons de vozes, o que você queria para que a outra pessoa pudesse entender? Isso é buscar se fazer entendido!
Quando falamos com crianças, nós certamente usaremos uma linguagem mais acessível para que ela possa nos entender. Em contextos acadêmicos, as palavras mais técnicas e formais serão melhor utilizadas. Em conversas e reuniões com superiores, optaremos por palavras que denotem respeito e uma certa hierarquia. Se somos tão capazes de entender as nuances que cada contexto demanda, porque ainda somos tão insensíveis para buscar entender a história e o contexto do outro com quem falamos, a fim de permitir que sejamos entendidos corretamente?
PALAVRAS QUE VIOLENTAM!
Talvez não percebamos a quantidade de vezes que usamos da violência para nos expressar. Você já se deu conta que não temos a prática de pensar no que estamos dizendo? A necessidade de ter uma resposta rápida, muitas das vezes nos faz ter uma resposta violenta ou incompleta.
Se as suas palavras chegam a outra pessoa como forma de desrespeito, descriminação ou exclusão, elas estão sendo violentas. E você pode facilmente não perceber isso e pode realmente acreditar que as respostas que você ouviu não foram adequadas com o que você falou, porque na sua mente não foi agressivo, mas para a outra pessoa pode ter sido e muito!
Se se sentirem desrespeitadas, descriminadas ou excluídas as pessoas podem reagir em defesa. E novamente, se você não mede suas palavras ou não busca compreender o lugar que o outro ocupa, cairá no mesmo erro de retornar com agressividade.
Pensar antes de falar é a chave para desenvolver relações saudáveis. Quando você está aprendendo a falar um idioma diferente, provavelmente na hora de falar você pensará muito mais nas palavras que pretendem dizer, a fim de encontrar o melhor significado para elas e não expressar algo erroneamente.
UMA SAÍDA PARA DESENVOLVER RELAÇÕES SAUDÁVEIS!
Não é uma tarefa fácil desenvolver habilidades emocionais para expressar o que desejamos, a fim de nos fazer entendido e ao mesmo tempo não ferir o outro. Principalmente, pelo fato de não ser comum a nós essa prática. Mas isso não significa que não é possível desenvolver relações saudáveis.
Para isso, muitos teóricos tem estudado a fundo a comunicação não violenta. Essa comunicação baseia-se na ação de promover um diálogo libertador e regado das expressões próprias do sujeito, sem atacar ou ferir o outro. Ou seja, é uma ação de olhar para si mesmo e reconhecer os sentimentos e as necessidades próprias, para comunicar de maneira clara ao invés de culpabilizar o outro.
QUATRO COMPONENTES PARA RELAÇÕES SAUDÁVEIS
A comunicação não violenta possui 4 componentes: observação, sentimento, necessidade e pedido. Esses componentes auxiliam para a sua efetivação e garantem relações saudáveis.
A observação é o primeiro componente para o estabelecimento de uma comunicação não violenta e perpassa a ação de observar os fatos e situações sem nenhum tipo de julgamento prévio. Desconsidero aqui a possibilidade de olharmos para os fenômenos sem nenhuma influência, pois somos seres sociais e carregamos crenças de vida próprias a nós. Todavia, o exercício proposto por esse componente é o não julgamento prévio, ou seja, a observação do que ocorre sem criar hipóteses explicativas, negando assim, generalizações.
- Pense em alguma situação que você vivenciou que esteja lhe causando incômodo, como por exemplo alguma conversa com o cônjuge em que foram ditas coisas que ainda lhe afetam.
O segundo componente, nos possibilidade reconhecer o que estamos sentindo em relação ao que observamos, ouvimos e vivenciamos. Ou seja, de que forma aquilo nos tocou e o que gerou intimamente. É o momento para tomar consciência dos seus sentimentos com o ocorrido.
- Quais os sentimentos que essa situação lhe despertou? Talvez você tenha se sentido inferior, triste ou com raiva.
Primeiramente, para comunicar um sentimento ao outro, é importante que você destaque o que está sentindo e não o que está pensando. Por exemplo, na frase: “Sinto que minhas ações são erradas”, você pode trocar o verbo “sentir” por “penso” ou “acredito”. E associado a isso, expressar o realmente sente, por exemplo: “Sinto-me frustrada, pois penso que minhas ações são erradas”.
O terceiro componente é a necessidade.
Isso pois, os sentimentos que envolvem uma situação geralmente são gerados por alguma necessidade ou expectativa em relação ao momento.
- Quem sabe naquela conversa você esperava que seu cônjuge lhe acolhesse mais afetivamente ou que se desculpasse em relação a algo ocorrido. O que realmente você necessitava? Quais eram suas expectativas?
Primeiramente, pense nesse momento quais as necessidades que você gostaria que fossem atendidas ao invés de julgar a outra pessoa. Isso pois, entender os sentimentos e necessidades é importante para estabelecer uma comunicação mais expressiva e clara. Assim como, evita reações defensivas do outro que pode considerar o que foi dito como crítica ou afronta.
O último componente é o pedido. Após observar sem julgamento a situação, entender como você se sente e quais necessidades deseja, fica mais claro você pedir algo ao outro.
- Esse é o momento em que após comunicar ao outro como você se sentiu e avaliar o que esperava, você pode efetivamente pedir ao outro aquilo que era sua expectativa.
EXEMPLOS DE COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA PARA RELAÇÕES SAUDÁVEIS
Violenta: “Que demorado! Você é lerdo!”
Não violenta: “Como está a execução dessa tarefa? Você está com alguma dificuldade que eu possa ajudar?”
Violenta: “Chega de drama! Você tá sempre querendo ser a vítima!”
Não violenta: “Percebo que esse assunto te deixa mais sensível. Que tal conversarmos sobre como você se sente?”
Violenta: “Você não cala a boca enquanto eu falo, fica me interrompendo sempre!”
Não violenta: “É muito importante para mim falar sem ser interrompido(a), podemos combinar assim e depois eu estarei em silêncio para te ouvir?”
Violenta: “Se você insistir nisso eu não vou te dar aquilo que prometi”
Não violenta: “Eu não quero negociar minha decisão, desculpe.”
Por fim, lembre-se que existem pessoas que desejam realmente se expressar de forma violenta e optam por não desenvolver outras formas de comunicar-se com os outros. Não submeta-se a relações assim por julgar que as coisas podem mudar com o tempo. Proteja sua saúde mental e emocional.
Espero que esse conteúdo lhe ajude!
- Autor
- Nome
- Vanessa Mattos
- Psicóloga Clínica - CRP 12/19336