Não vejo resultados na terapia, e agora?
Você já percebeu que não via resultados na terapia? Ou quem sabe você está em processo de psicoterapia, mas não sente que as coisas estão indo bem e não vê melhoras em relação aquilo que você gostaria de trabalhar. Ou até mesmo, você tenha receio ou medo de iniciar um processo de psicoterapia por acreditar que possa não ser colaborativa ao que você precisa.
Esses questionamentos são bem importantes e expressam diferentes vozes que estão internalizadas dentro de nós. A psicoterapia acontece na relação entre terapeuta e cliente e as particularidades dessa relação devem ser tidas em conta para que o processo se desenvolva.
Como mensurar os resultados na terapia?
Algumas coisas são necessárias de serem levadas em conta quando trabalharmos os possíveis resultados na terapia. Isso pois, por lidar com algo tão subjetivo que é a mente humana e os relacionamentos, é comum que a psicoterapia se molde para cada pessoa de uma forma. Sendo assim, seus resultados também irão variar. Confira os tópicos a seguir:
A psicoterapia não possui um resultado palpável:
Diferentemente de outras áreas da saúde em que o resultado do atendimento envolva algo visível, palpável e mensurável, a psicoterapia não acontece assim. Se você for no dentista, você certamente verá as alterações no seu dente e poderá tocar ali.
Entretanto, na psicoterapia não é possível tocar nas mudanças que ocorrem e por esse motivo, podem haver dificuldades de perceber aquilo que tem movido dentro de você. A psicoterapia assim nos convida a uma reflexão diária dos passos que damos no caminho para aquilo que esperamos de resultado.
A psicoterapia não possui um resultado único:
O produto da psicoterapia perpassa o objetivo principal da sua busca pela ajuda psicológica, mas por envolver a relação entre duas pessoas e os diferentes contextos que vivem é muito comum que promova reflexões mais amplas sobre diversos assuntos. Ou seja, promove transformações nas diferentes áreas da vida, para além daquela que foi solicitada.
E esse movimento acontece de forma sutil, no processo de troca. Se pensarmos na nossa vida como uma teia – com contextos interligados – conseguimos entender que se mexemos em uma parte dessa teia, outras partes sentirão também o movimento. E esse é uma das ações que considero mais ricas da terapia.
A psicoterapia não possui um resultado pronto:
Ela pode promover mudanças pontuais a curto prazo, SIM.
Ela pode auxiliar na alteração de comportamentos e pensamentos atuais diretamente, SIM.
Mas existem variáveis importantes nesse processo – que abordaremos em seguida – que possibilitam essa mudança rápida. Todavia, o processo de terapia não possui um resultado pronto. Você dificilmente ouvirá “após a psicoterapia você vai estar assim” ou “no final da terapia você vai estar dessa forma e se sentir dessa forma”. Desconfie se alguém lhe fizer essa mensuração. Você é um ser em constantes transformações, com diferentes histórias, contextos e vozes ecoando em si e acreditar que só existe um único final para esse processo de autoconhecimento é limitar as múltiplas possibilidades de ser você.
Entender esses pontos perpassa lidar com medos e conceitos próprios, que podem ser explorados em terapia para alcançar outros significados.
psicoterapia não ser útil?
É possível umaExistem na psicologia – como em qualquer outra profissão – profissionais não éticos, que desconsideram o conhecimento e atuam de forma prejudicial à seus clientes. Infelizmente, muitos desses profissionais contribuem para uma visão errada da profissão e nos levam a negar a experimentação.
É importante entender as múltiplas variáveis existentes nesse contexto para não generalizar e conceituar todas as formas de psicoterapia e todos os profissionais de psicologia como ruins, baseando-se em uma experiência específica. E quais são essas variáveis?
1. Vínculo e linguagem:
Antes de mais nada, é importante você entender que haverá tipos de psicólogos e de abordagens da terapia com os quais você não se identificará. Inclusive, essa é uma variável muito importante a ser levada em conta na hora de escolher: entender o porque você optou por aquele profissional. Isso pois, precisamos considerar os vínculos que se formam nessa relação e pode sim acontecer de que não se tenha um vínculo positivo. Assim como, podem haver diferentes linguagens nesse processo, tanto suas quanto do profissional de psicologia, que contribuem ou não para que a relação seja agradável à você.
2. Tempo:
Eis uma variável invariável. É certo de que o tempo pode passar de formas diferentes para cada pessoa. E considerar isso no processo terapêutico implica em entender que existem coisas para as quais eu estou sujeita a mudar, como pessoa, naquele momento. Ao passo que, existem coisas as quais eu não estou sujeita a mudar, e isso pode contribuir para que transformações ocorram ou não. Por isso, é preciso entender o meu tempo de implicar a mim mesmo no processo.
3. Processo e desenvolvimento:
Outra questão que relaciona-se com o tempo é sobre PROCESSO. Falar de processo implica considerar que a psicoterapia trabalha com sentimentos, pensamentos, histórias, narrativas, vozes, entornos e contextos.
Isso significa que demanda tempo e não é linear. O processo de mudança não é uma linha entre um ponto e outro, mas um caminho cheio de reviravoltas, de vai e vem, subidas e descidas, passos para frente e passos para trás. Por isso, alcançar os resultados que você deseja pode levar mais tempo do que você imagina e por isso, talvez você ainda não consiga os ver no seu processo terapêutico, mas é importante vislumbrar os passos já dados atualmente.
4. Uma variável importante para QUALQUER processo de psicoterapia e que está nas SUAS mãos!
Acima de tudo, precisamos também trabalhar a autoresponsabilidade no processo psicoterapêutico. E essa é uma variável que está única e exclusivamente nas suas mãos. Ou seja, que depende de você para que se torne uma ferramenta agregadora do processo. Bem como, eu ousaria dizer, muitos dos processos psicoterapêuticos em que as pessoas se sentem “estagnadas” ou “sem resultados” se dá pela baixa participação efetiva da pessoa em terapia.
Isso pois, a autoresponsabilidade implica em levar o seu processo terapêutico com muita intensidade, com muita vontade e curiosidade. Principalmente, tendo em vista que você melhor do que qualquer um é capaz de saber sobre si mesma. Você e somente você é capaz de escolher os melhores caminhos para a sua jornada.
Por isso, implicar-se no processo é verdadeiramente se colocar na jornada de autoconhecimento, de questionamento sobre suas certezas, de cuidado com as suas emoções e sentimentos. É uma posição que exige tamanha coragem a ponto de se permitir mudar. É uma posição que exige tamanha vulnerabilidade a ponto de se permitir sentir, questionar e ressignificar ideias, conceitos e valores.
Espero que esse texto tenha lhe aberto reflexões sobre o seu processo terapêutico. Se você está em fazendo psicoterapia é importante constantemente avaliar como está o seu processo. Solicite isso ao profissional que lhe acompanha. Se você busca iniciar um processo terapêutico, não isente-se de testar e ter em mente a necessidade de implicação real da sua parte. E lembre-se: é possível sim mudar de psicóloga se isso for realmente uma questão para você. Não permaneça numa relação terapêutica contra sua vontade.
Respeite o seu processo e as suas escolhas.
- Autor
- Nome
- Vanessa Mattos
- Psicóloga Clínica - CRP 12/19336