Como estão os seus diálogos internos?
Você se considera uma pessoa com bastante diálogos internos? Durante muito tempo, as pessoas acreditaram que elas eram fruto apenas daquilo que pensavam sobre si mesmas e desconsideravam que o que vinha de fora poderia ter algum tipo influência nisso. Aos poucos fomos percebendo o quanto o contexto externo, ou seja, nossas relações, nossas heranças familiares, nossa cultura e todas os demais conteúdos externos com os quais temos contato – diretamente ou indiretamente – afetam quem nós somos e de que forma nós vemos o mundo.
Desta forma, o ser humano constitui-se como um ser relacional, que constrói narrativas ou histórias sobre si mesmo a partir dos eventos e conexões que organiza dentro de si.
Sendo assim, através das trocas conversacionais nós desenvolvemos “um senso de identidade ou vozes interiores que dão sentido ao nosso mundo” (LENZI, 2013). Algumas dessas vozes são mais potentes do que outras, como se realmente houvessem minis você conversando lá dentro.
Diabinho?
Anjinho VsCertamente você conhece histórias em que esses dois personagens opostos aparecem falando nos ombros do personagem principal. Um é bom e o outro é mau, geralmente representado por um anjinho e um diabinho. Eles surgem em momentos de conflito interno, trazendo conselhos e tentando convencer a pessoa sobre como lidar com uma situação de decisão.
Essa visão dicotômica e separada da nossa mente, nos faz classificar tudo entre bom e mau, desconsiderando a influência de outras vozes que atuam em nós. Por isso, quando falamos das vozes que internalizamos, abolimos a ideia desses dois personagens e expandimos para um conceito de personagens diversos, regado de narrativas sobre quem nós somos, sem necessariamente nos dividir entre bom e mal.
As vozes que habitam no nosso interior nos ajudam a entender melhor as situações que consideramos problemas ou divergências em nossas vidas. Quem sabe, é a voz do perfeccionismo que impede você de visualizar seu trabalho como algo bom. Ou a voz do medo que lhe impede de fazer coisas novas. Ou a voz da inutilidade que lhe faz acreditar que nada do que você faz, contribui com os outros. E essas vozes podem se combinar e desenvolver diálogos potentes dentro de você.
Quem está falando?
Assim como em qualquer conversa ou reunião, no nosso diálogo interno sempre há vozes que falam mais do que outras. E os motivos são vários: por que é a que mais domina sobre o assunto; ou por que é quem ocupa uma posição de destaque; ou por que é quem vivenciou com mais proximidade aquilo que está sendo relatado.
Desta forma, também existem diferentes vozes que podem ser cruéis em determinados momentos. Algumas delas estiveram mais presente em nossas vidas e por isso, assumem muitas das vezes o diálogo interno de forma protetiva. Outras, podem ter sido colocadas por nós em lugares de destaque, pela crena de que são as que mais nos ajudam ou que mais tem coerência. Mas isso não significa que são.
Quando conseguimos observar e reconhecer essas vozes, expandimos nossa visão sobre o que é o problema. Principalmente, porque essas vozes podem ser opostas e não estarem contribuindo para que o problema seja resolvido.
Então, o que é importante que eu saiba sobre os diálogos internos:
1. Nossa visão de mundo está arraigada naquilo que cremos, aprendemos e vivemos.
Primeiramente, é preciso salientar que os discursos que aquilo que você defende, conta e projeta é desenvolvido com base naquilo que você acredita e nas experiências que tem! Por isso, explorar novas experiências poderá lhe proporcionar novos olhares. Todavia, é necessário permitir a si mesmo viver essas experiências sem pré-julgamentos, ou seja, sem ficar ponderando aquelas situações com base nas suas convicções de vida. É silenciar as vozes da sua mente e estar aberto para conhecer e desvendar coisas novas.
Essa atitude não significa abdicar quem você é, mas estar tão seguro com aquilo que você já carrega e não deseja abrir mão, que é possível experimentar coisas novas sem julgamentos. Por que quando conhecemos algo novo ou uma pessoa nova e já presumimos coisas de antemão, nós limitamos a nossa capacidade de conhecer mais profundamente o que é ou quem é que se apresenta a nós.
2. Pensamentos são apenas pensamentos até você definir o que fazer com eles.
Se entendemos que as vozes que ecoam dentro de nós, esses pensamentos que nos sobrevêm, são constituídos através das nossas experiências e influências de vida. Ou seja, através do que acreditamos, vivemos e aprendemos, conseguimos entender que eles tem um contexto para existirem. Mas não necessariamente, descrevem tudo o que nós somos. A nossa capacidade de observar nossos pensamentos e julgá-los é a nossa maior certeza de que eles não são verdades absolutas e que podem mudar.
É você quem decide o que fazer com eles. É você quem decide quais vozes tomaram o controle da sua vida e serão base para as suas decisões.
3. Existem vozes silenciadas em nós
Talvez você já tenha vivenciado uma situação em que foi demandado de você uma posição diferente da que você geralmente ocupa. Quem sabe uma decisão difícil ou o enfrentamento de uma situação que você acreditava que não ia dar conta. E você conseguiu vivenciar aquilo. Depois, quem sabe, você tenha dito: “Não sei como eu passei por isso”, “Não sei como consegui agir daquela forma tão decisiva”.
Essa “força” não é meramente uma energia que alcançamos num determinado momento, é uma parte de quem nós somos, mas que está silenciada em nós. E o mais interessante é que essas vozes podem ser convidadas a participarem das conversas novamente e irem abrindo novas possibilidades e novos olhares.
4. Novas vozes podem ser internalizadas
Contudo, se nos permitirmos, estaremos em constante aprendizado e mudança. E essa ação nos possibilitará que novas vozes sejam internalizadas e possam ser convidadas ao diálogo. Quem sabe as vozes que ecoam em você hoje sejam depreciativas, autocríticas e destrutivas. Permita-se questioná-las e busque novas vozes.
Está na hora de olharmos para nós mesmos e para nossos diálogos internos e nos perguntarmos:
- Quem está falando e agindo aqui?
- Que vozes estão mais altas e quais estão sendo abafadas?
- Como podemos ajudar as vozes que estão abafadas?
- Que vozes podemos convidar para adentrar no diálogo?
Fazendo assim estaremos conhecendo nossas formas de agir e desenvolvendo negociações internas e externas em direção a resolução dos conflitos que temos. O caminho da mudança é o caminho que promove novos significados para aquilo que nos afeta.
Pronto para cuidar dos seus diálogos internos?
- Autor
- Nome
- Vanessa Mattos
- Psicóloga Clínica - CRP 12/19336