Não confunda segurança com controle

Não confunda segurança com controle

Controle e segurança são duas palavras distintas. Mas porque será que muitas das vezes confundimos elas?

Eu gosto das palavras. Pois, o fato de existirem palavras diferentes para cada coisa me faz ter a certeza que, por mais parecidas que as coisas possam ser, elas tem alguma diferença. Caso contrário, elas se chamariam a mesma coisa.

Se sentir seguro(a) é uma das premissas mais fortes em relacionamentos amorosos. Nós queremos ter a sensação de que estamos seguros com a pessoa que escolhemos para nos relacionar. A grande questão é que nem sempre buscamos essa segurança de uma forma que seja benéfica e saudável para ambos os envolvidos no relacionamento.

Muitas das vezes, confundimos segurança com controle. Como se o fato de estarmos no controle de uma situação é o que nos garante de que aquilo é seguro. Isso vem das formas que aprendemos e significamos sobre o que é segurança. Pensarmos que somente quando tivermos o controle é que estaremos seguros é perigoso. E só nos revela a falta de confiança que temos nas pessoas.

Um exemplo: quando você está dirigindo um carro você está no controle dele, certo? Sim. Mas isso garante que você não irá sofrer um acidente? Não. Porque no trânsito não se trata só de você, mas de outras pessoas que também estão dirigindo por aí. Ou seja, mesmo você sendo um motorista muito habilidoso, ainda é possível que outra pessoa invada a pista e bata no seu carro. No fundo, o que fazemos no trânsito é confiar nas outras pessoas. Confiar que elas irão frear o carro para não bater na sua traseira, que elas não passarão o sinal vermelho, que respeitaram as placas de preferência, que não cortaram a sua frente e assim por diante. É um puro ato de confiança no outro.

Nossas referências de segurança

Outro exemplo um pouco menos corriqueiro, mas que nos traz mais um fator além da confiança: montanha russa. Pessoas inseguras não andam de montanha russa, o medo fala mais alto. Todavia, se você anda, minimamente você possui um pouco mais de segurança do que medo. E o que garante essa segurança sendo que você não está no controle do que está acontecendo ali? Duas coisas garantem:

  1. A referência de outras pessoas que foram e ficaram seguras.
  2. Sua mínima confiança de que aquilo é seguro e que a pessoa que está operando sabe o que está fazendo.

A referência que temos durante nossa vida sobre relacionamentos influencia na forma como iremos nos relacionar no futuro com outras pessoas. Isso pois, vamos criando modelos e padrões na nossa cabeça sobre o que é um relacionamento. Assim como, sobre o que é segurança e sobre o que fazer para tê-la. Se durante sua infância você vivencia modelos de relacionamentos que não te trazem segurança ou que é perpassado por muito controle, isso fica registrado em você. E se não estamos conscientes do que está registrado em nós, tendemos a acreditar que é aquele tipo de relacionamento que teremos também. E assim, passamos a repetir o que vimos e aprendemos na infância.

Por isso, as experiências que temos com a confiança é importante. Nossas figuras de referência, como pais e cuidadores participam ativamente dessa construção de confiança. Pense bem: você aprendeu a confiar?

Não obstante, muitas pessoas acreditam que algumas coisas, como a confiança, surgem com a gente do nada. Mas a verdade é que se não aprendemos algo aquilo acaba não fazendo sentido quando o outro pede ou faz. É muito difícil para uma pessoa que viveu a vida sob o olhar desconfiado dos pais se sentir confiante em si mesma.

Confiança: abrindo mão do controle

Relacionamentos regados pelo controle sufocam e se perdem ao longo do tempo. A desconfiança reina e as chantagens emocionais são cada vez maiores. É preciso reconhecer que a necessidade de controle aponta para as suas inseguranças e não para a infidelidade do outro. Ou seja, são as suas inseguranças que estão te levando a buscar o controle, pois foi assim que você aprendeu a se relacionar.

Abrir mão do controle é um processo. Isso pois, exige a desconstrução dessa forma de se relacionar com o outro que fere e oprime. É escolher ativamente viver relacionamentos sem chantagens emocionais e depositar a confiança no outro. Para alguém que não aprendeu sobre como confiar o processo é de começar a desenvolver isso em si e se possível com a ajuda do outro.

Reconheça quais são as inseguranças que lhe mantém buscando o controle e lide com elas. Pois assim, retirando a função do poder é que conseguimos ressignificar e buscar formas mais saudáveis de dialogar com o outro.

A segurança nunca é algo 100% garantido, ela se baseia na quantidade de confiança que depositamos no outro. Por isso, confiar é uma escolha.

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