Autocobrança: o eco das vozes do fracasso
- Você costuma usar a autocobrança no seu cotidiano?
- Você sente insegurança em relação ao seu potencial?
- É comum você se ver como uma fraude ou que não é bom o suficiente?
- Você se compara com outras pessoas?
A autocobrança excessiva é perigosa e leva as pessoas a se atarefarem para se sentirem competentes, aceitos, amados e/ou desejados. É comum as comparações regerem os relacionamentos e as falhas serem vistas como dignas de retaliação própria, aumentando mais a cobrança sobre si mesmo. Isso nas relações de trabalho, nas amorosas e inclusive nas familiares.
Muitas das vezes, acreditamos que nos autocobrar com frequência é algo positivo, pois funcionaria como uma motivação para buscar mais informações e fazer mais pelas pessoas. Mas, a autocobrança também possui um poder destrutivo, principalmente quando percebemos que não podemos saber de tudo e ser tudo para o outro.
O que nos leva a autocobrança?
Muitas podem ser as motivações para que a autocobrança cresça em nós. Aprendemos desde muito cedo como nos relacionar com algumas características nossas e ao longo do tempo vamos moldando essas visões e os porquês das atitudes que tomamos com mais força. Todavia, aqui estão algumas reflexões sobre esses porquês:
- Busca por perfeição: sentir que precisa ser perfeito pode ser um fardo grande, principalmente pela imposição de ideal inalcançável de ser. Frases como “Eu preciso ser bom demais em tudo o que eu faço” e até mesmo a sensação de que nada o que você faz está bom o suficiente podem surgir como sinais de alerta. O não ser perfeito, traz sentimentos de culpa, por não ter se aperfeiçoado mais. Assim como sentimentos de ansiedade, por não saber o que será no futuro e o que as pessoas irão dizer.
- Medo de errar: Os erros podem não ser bem vistos por algumas pessoas, pois podem significar fracasso ou até que a pessoa não é digna de amor. E por isso, falhas geram sentimento de insegurança e medo do abandono.
- Aceitação do outro: uma necessidade de aprovação e aceitação do outro, ou seja, da não rejeição, principalmente daqueles a quem amamos pode nos levar a autocobrança excessiva. Mas isso também pode acontecer em ciclos sociais nos quais desejamos nos inserir.
As vozes do fracasso
As vozes e mais vozes do fracasso ecoam nos pensamentos e nos levam a autossabotagem, ou seja, nos levam a criar obstáculos e empecilhos para nossas próprias tarefas e objetivos, a fim de não conseguir concretizá-las. Tudo isso, para depois julgarmos a nós mesmos como fracassados.
Aceitar a possibilidade de cometer erros, de não precisar saber de tudo e ainda assim ser amado e aceito muito diz das nossas experiências familiares. Pois, é no seio familiar que nossa primeira relação com o amor e a aceitação acontecem. Ou seja, são nas relações familiares primárias, com pais e responsáveis que experimentamos em primeira mão as nossas emoções e sentimentos. Por isso, as relações familiares podem ser grandes potencializadores das cobranças que acompanham cada um de nós.
Crianças muito cobradas, com pouco reconhecimento e incentivo, podem tornar-se adultos emocionalmente feridos, com confiança e autoestima abaladas. A culpabilização excessiva, a comparação entre irmãos e a exigência em relação ao desempenho escolar também podem contribuir para a sustentação das vozes do fracasso.
A tentativa de suprir todas as expectativas do outro em relação a si é frustante, causando sofrimento intenso e alimentando ainda mais o sistema da autocobrança. A pergunta que mais ecoa é “como posso receber o amor do outro se não sou o suficiente para ele?”
Infelizmente, muitos relacionamentos abusivos são mantidos assim.
Como trabalhar a autocobrança?
1 - Fuja das comparações
A comparação traz sentimentos de inferioridade e desvalorização. Isso pois, geralmente ela acontece envolvendo pessoas em uma situação melhor do que a nossa. Ou seja, optamos por olhar as conquistas das pessoas que já avançaram algumas etapas a nossa frente e nos desvalorizar por não estar lá. Talvez você carregue consigo fortes lembranças relacionadas a cobrança e a comparação, que lhe causam sofrimento intenso. É importante lembrar que as pessoas são diferentes e que a comparação pode se tornar autodestrutiva, por sugar motivações.
2 - Comemore as pequenas conquistas
Algumas pessoas realmente tem dificuldade de olhar para os passos já dados, por considerarem pequenos demais ou por estarem focados no objetivo final. Embora o foco no que deseja alcançar seja importante, é preciso apreciar também os avanços do caminho. Seja no âmbito profissional, amoroso ou familiar, comemore suas pequenas conquistas com a devida importância. Cada passo dado nessa jornada deve ganhar reconhecimento real!
3 - Foque no processo
Isso significa olhar para o presente com mais apreciação e desviar o olhar dos resultados esperados, que promove sentimentos de ansiedade e de incapacidade, por não conseguir enxergar os passos que já foram dado. Quando você olha para o processo, você abre possibilidades para reconhecer o quanto você já caminhou e a aproveitar mais cada momento.
A autocobrança não te faz ser melhor, são as suas atitudes e passos diários que fazem. A autocobrança só lhe traz tensão emocional.
4 - Perdoe a si mesmo
Reconheça as suas falhas, suas limitações e perdoe a si mesmo. Quando acreditamos que precisamos ser perfeitos qualquer passo que damos “para trás” é visto como um retrocesso. Por isso, ao reconhecer que os erros fazem parte do processo e que trazem aprendizados valiosos, caminhamos para mais próximo de nós mesmos, sendo capazes de nos perdoar. E ao compreender que os passos para trás podem ser protetivos, nos libertamos dos sentimentos depreciativos.
Todavia, lembre-se de se responsabilizar por esses erros de forma saudável, sem se culpabilizar.
5 - Conheça a si mesmo
É no encontro com nós mesmos que encontramos os outros. Conhecer a si mesmo é se deparar com a infinidade de eu's que possuímos. É se deparar com as inúmeras vozes que ecoam dentro de nós, de onde elas vêm, que rostos as acompanham e como nos afetam.
É nesse caminho que descobrimos que tudo bem ser imperfeito!
Vamos começar essa jornada?
- Autor
- Nome
- Vanessa Mattos
- Psicóloga Clínica - CRP 12/19336